Corte de árvores no Hotel das Paineiras gera indignação
Pio de pássaros e canto de cigarras foram substituídos pelo som agressivo das motosseras
De acordo com trecho da nota oficial emitida pela direção do Parque Nacional da Tijuca ao Jornal do Brasil, “a supressão de vegetação foi autorizada pelo Instituto Chico Mendes para implantação do Complexo Paineiras, projeto selecionado em concurso público nacional de arquitetura organizado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil e previsto no plano de manejo do Parque Nacional da Tijuca”.
Há 15 anos fazendo diariamente o trajeto de subida e descida ao morro do Corcovado, o taxista Rubens Júnior diz que já denunciou o desmatamento na região.
“Uma vez até falei diretamente com um guarda da polícia florestal que passava por aqui e denunciei os cortes de árvores. Ele disse para eu procurar outros órgãos ambientais e que não podia fazer nada. Como isso? Ele não é um guarda para coibir qualquer tipo de crime ambiental?”, indaga indignado o taxista.
Ainda segundo Rubens Júnior, os cortes das árvores estão sendo feitos sem nenhuma segurança e para quem quiser ver: “é de dia e de noite e sem nenhum tipo de isolamento da área. Outro dia pessoas que vinham visitar o Cristo passavam embaixo de uma árvore enquanto seus galhos iam caindo”.
Para a deputada estadual Aspásia Camargo (PV-RJ), a lei de uso de solo do Rio de Janeiro permite esse tipo de coisa, que requer compensações", comentou. Outro dia uma amiga quis remover duas árvores de seu terreno, com o compromisso de plantar outras duas, e não conseguiu autorização. Mas para este tipo de situação as normas parecem ser outras", ironizou.
Falta de transparência
Para os trabalhadores da região das Paineiras, além do problema da derrubada de árvores, que segundo eles já está mudando o ecossistema local, a revolta é por conta da falta de informação sobre a prática, autorizada pelo ICMBio.
“Eles fazem às escondidas, sem dizer nada para ninguém. Está claro que não se prontificaram em proteger a natureza. Pelo que sei, não existe pretensão de remanejar a vegetação. O grande problema é o ecossistema. Antes era comum vermos, por exemplo, tucanos se alimentando nas árvores vizinhas”, ressalta um trabalhador do local, que também não se identificou, temendo represálias.
Parque dá sua versão
Procurada pelo Jornal do Brasil, a administração do Parque Nacional da Tijuca, administrado pelo ICMBio, enviou uma nota oficial para esclarecer a situação. Confira abaixo a íntegra:
A supressão de vegetação foi autorizada pelo Instituto Chico Mendes para implantação do Complexo Paineiras, projeto selecionado em concurso publico nacional de arquitetura organizado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil e previsto no plano de manejo do Parque Nacional da Tijuca.
A revitalização do antigo Hotel das Paineiras incluirá estacionamento subterrâneo, exposição educativa, café, restaurante panorâmico, loja de souvenir e mini centro de convenções, proporcionando maior conforto para os visitantes que procuram o Corcovado e ordenando a visitação, o que reduzirá o impacto do turismo no Parque.
É importante destacar que a área de intervenção já foi objeto de diversas obras e aterros para construção do próprio hotel e da estrada, mas mesmo assim foram tomados todos os cuidados ambientais, com realização de sondagem no solo e inventário completo das árvores.
As árvores que estão sendo retiradas são, em sua maioria, exóticas, ou seja de espécies que não ocorrem na Mata Atlântica, e sua retirada também já estava prevista no plano de manejo. As árvores nativas serão compensadas com plantio de 3 vezes o número de indivíduos em outras áreas do Parque.
O processo de ordenamento da visitação do Corcovado já apresenta bons resultados na recuperação da vegetação na estrada entre as paineiras e o Corcovado, após a proibição de acesso e estacionamento de veículos particulares.
*Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil
JB
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