sábado, 29 de dezembro de 2012

Sobre Oscar Niemeyer



      No dia 6 de dezembro, morreu um dos maiores arquitetos do mundo e maior do Brasil, Oscar Niemeyer. Ele foi um dos principais ícones da arquitetura mundial do século XX e também do século XXI. Foi autor de uma arquitetura única e revolucionária que mudou os paradigmas da mesma e revolucionou a forma como se lida com as formas, onde ele com curvas se chegava a dois pontos ao invés de usar retas.
     Não há um lugar sequer no Brasil que não tenha alguma construção do Oscar Niemeyer. Isso sem contar as obras que tem a assinatura dele como o prédio da ONU, prédio do partido comunista francês, monumentos na Argélia e muitos outros. No Brasil, sobretudo no Rio e em Brasilia o que não falta são prédios projetados por ele. Eu mesmo brinquei muito numa construção projetada por ele, o CIEP Solano Trindade em Realengo.

                                             Ciep Solano Trindade em Realengo

     Sobre suas construções e a genialidade dele em termos profissionais eu nem vou comentar muito, pois a própria mídia ja se prontificou de fazer e mostrar. Vou me a ter a alguns detalhes de sua personalidade e alguns momentos de sua vida publica e profissional que com certeza estão passando em branco.

      Sobre a vida profissional dele, nós sabemos o quanto ele foi excelente, porém ha uma obra dele que foi a primeira que ele projetou assim que se formou. Este prédio simples, porém com uma arquitetura um pouco revolucionária para época é o prédio da Obra do Berço. Ele fica na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ha uma curiosidade sobre ele: Niemeyer não gostava deste prédio e chegava até mesmo a renegar sua autoria no projeto do mesmo, sem nunca se saber o motivo desta atitude.  
                            Obra do Berço, o segundo prédio projetado por Oscar Niemeyer (foto de 2009)




 Obra do Berço, o primeiro prédio projetado por Oscar Niemeyer (foto de 2012)

      Outra curiosidade que provavelmente hoje passará esquecida é a sua relação com Adolpho Bloch. Assim como Bloch era amigo de JK, este também era muito amigo de Niemeyer e além de divulgar suas obras em Manchete, encomendou vários projetos de prédios, incluindo as sedes da Rede Manchete no Rio e em São Paulo e vários outros prédios. Adolpho Bloch dava muito destaque as obras dele em suas revistas. Se Manchete e Fatos e Fotos ainda existissem, com certesa ambas seriam totalmente dedicadas a Niemeyer. E não apenas uma edição, mas pelo menos três no mínimo, pois Adolpho Bloch além de amigo, era fã fanático de Niemeyer.

   Na questão pessoal, ele era tão excelente quanto profissionalmente. Na verdade ele foi um grande cristão mesmo tendo sido ateu. Isso porque ele ajudava as pessoas, ajudava amigos e até funcionários. Quando Luis Carlos Prestes esteve em dificuldades e sem moradia, Niemeyer comprou um apartamento para ele. Niemeyer construiu também uma casa para um de seus funcionários no Vidigal e ajudou muitas instituições de caridade, seja financeiramente, com donativos e sobretudo construindo prédio para elas. O maior exemplo disso foi o prédio da Obra do Berço na Lagoa. Era uma pessoa humilde de coração e de bem  com a vida. Tinha tudo para ser arrogante, e sentir o melhor, mas felizmente não quis ser desse jeito, o que mostra a excelente pessoa que foi. Não aceitava a má distribuição de renda e as injustiças sociais em nosso pais, assim como não se conformava de ver a educação em segundo plano. E com relação a Brasília, este tinha uma séria decepção com a cidade que ajudou projetar, pois a cidade manteve afastada quem a construiu, os candangos, e isso ele jamais aceitou, pois acreditava que Brasília seria uma cidade inclusiva, o que nunca aconteceu. E mesmo doente continuou trabalhando até o dia em que foi internado no dia 2 de novembro.
     Na politica, além de ser comunista e nunca abrir mão de seus ideais, foi amigo de Brizola, JK e Darcy Ribeiro. Continuou comunista mesmo após o Muro de Berlim cair. Ele era muito convicto em seus ideais. Dentro da politica além de projetar os prédios dos governos e de Brasilia, este foi um dos que participou do projeto de educação empreendido por Brizola no governo do Rio de Janeiro na década de 80, os Cieps. São unidades escolares onde as crianças passavam o dia todo estudando, praticando esportes, e cuidando de sua saúde. Neles tinha dentistas, nutricionistas,médicos psicólogos, atividades culturais, estudos dirigidos e educação física. Os CIEPs forneciam refeições completas a seus aluno  A capacidade média de cada unidade era para mil alunos. O projeto objetivava, adicionalmente, tirar crianças carentes das ruas, oferecendo-lhes os chamados "pais sociais", funcionários públicos que, residentes nos CIEPs, cuidavam de crianças também ali residentes.
     Não há um lugar, pelo menos no Rio ou em Brasilia que não se esbarre numa construção dele. Os cieps são uma prova viva disso. Isso sem contar as igrejas que construiu, prédios de órgãos públicos, assim como criou marcas e pontos turísticos definitivos e que passaram a ser o símbolo de uma cidade, como o Museu de Arte Moderna de Niterói, que passou a ser o símbolo maior daquela cidade ou Passarela do Samba na Avenida Marquês de Sapucaí, que a transformou na maior arena de samba do Brasil.
    E um homem que vai deixar saudades pelo que foi, embora permaneça vivo através de suas obras e da conduta que teve junto as pessoas. Na verdade ele se eternizou com elas. Pessoas com as características dele será difícil de se obter, é algo raro. Dele só a parte profissional é possível, embora seja difícil em função da atual situação em termos de cultura e ensino no país, pois a pobreza delas inibe a criatividade, coisa que quando Niemeyer nasceu e viveu, teve de montão e hoje não é mais assim. Bem que ele possa descansar em paz e que Deus o ilumine aonde estiver mesmo ele sendo ateu, pois ele foi mais cristão do que muito cristão. Isso é o que Fatos Gerais deseja a esta importante alma que viveu na terra.

Um comentário:

MPierre disse...

É bom frisar que os arquitetos dá o pontapé inicial de qualquer projeto, depois, entram os Engenheiros.

Infelizmente, só a TV Senado lembrou do Engenheiro Calculista Joaquim Cardoso (1897? - 1979) que trabalhou junto com o Niemeyer mais o Lúcio Costa no projeto de Brasília.