Costumam chamar agosto de o mês do desgosto, mas também pode ser chamado de um mês em que acontecem apresentações musicais de bom gosto. No dia 24 de agosto houve a apresentação da Plebe Rude no Circo Voador, local de shows memoráveis da banda, especialmente nos anos de 1984 e 1986, shows esses lembrados pelo vocalista e guitarrista Philippe neste show da semana passada. Esta apresentação foi escorada nas músicas gravadas no CD/DVD Rachando Concreto, gravado ao vivo em Brasília, e também na totalidade do disco O concreto já rachou, o maior clássico da banda.
O show da semana passada foi antológico. A banda continua afiadíssima. Philippe Seabra e Clemente nos vocais e guitarras, Fred Ribeiro no baixo e um xará meu, Marcelo, como o novo baterista. Fred está provisoriamente no lugar de André X. Philippe disse que André X passará uns quatro meses fora do Brasil fazendo cursos, mas que deixou gravados os baixos do novo CD que a banda está preparando.
Mas em se tratando de Plebe Rude, não há roteiro certinho. A banda nunca foi certinha. Pois é uma das precursoras do punk rock de Brasília e do Brasil. A banda fez uma apresentação que me pareceu até maior que a duração do show de Brasília gravado em DVD em 2009. Não me arrisco a escrever aqui o set list do show, mesmo porque eu estava entusiasmado demais pra ficar anotando ou decorando, nem mesmo para contar as músicas. E eu não estava gravando o show. Já me esforçava pra caramba pra ver a banda, cantar e tirar fotos no meio da multidão que lotava o Circo... Do que eu lembro agora, posso dizer que a banda aproveitou o tempo pra resgatar músicas de todos os sete discos da banda. Inclusive a música Mentiras por enquanto, que sempre foi a que mais gostei e que, segundo Philippe, eles só tocaram no Rio (pelo menos na turnê do DVD) a pedido dos amigos da banda no Rio. Três deles estavam na frente do palco e enfartariam ao ouvir a música, segundo Philippe. A banda também enxertou músicas próprias e de outras bandas em várias das músicas do set list. Como Nunca fomos tão brasileiros, Pátria Amada (dos Inocentes, a outra banda do guitarrista Clemente), Geração Coca-Cola (enxertada não lembro em qual música), Selvagem (música dos Paralamas do Sucesso enxertada em Proteção) e até mesmo Aumenta que isso aí é rock'n'roll (enxertada em Até quando esperar pra homenagear o saudoso Celso Blues Boy). A banda também incluiu na íntegra (não enxertada em outras) a clássica Pânico em SP, outra dos Inocentes. Além de Celso Blues Boy, outro finado músico homenageado foi Redson, do Cólera, através da música Medo, incluída na íntegra, mesmo porque já está presente no repertório da Plebe há muitos anos.
A apresentação da música Minha Renda foi antológica. Além de samplearem o Chacrinha apresentando a própria Plebe em seu Cassino do Chacrinha, eles interromperam a música no meio para parodiar com corrosivo sarcasmo vários clichês da música pop descartável e da Música de Cabresto Brasileira, dos iô iô iôs, coros e gestos de mãos de vários gêneros até a pobreza da letra de um tecnobrega que a banda ameaçou tocar, mas ficou só no começo. Tudo isso só para ilustrar o discurso de Philippe contra os esquemões da música descartável de fácil rentabilidade e a favor de um caminho musical mais difícil, mas que é o caminho correto. Philippe também disse que a Plebe nunca mais tocará em rádio. Se o rádio continuar assim, é bom mesmo a Plebe ficar fora do dial.
Philippe também disse que a vantagem de morar em Brasília (onde os integrantes da banda moram, exceto Clemente, de São Paulo) é que Brasília não tem prefeito nem vereador, e por isso não está sendo bombardeada por essa palhaçada da campanha eleitoral que, como bem observou Philippe, está massacrando a nós, cariocas. Disse isso para introduzir a música Vote em branco, que ele lembrou que foi responsável pela prisão da banda toda em 1984, quando eles a tocaram em Patos de Minas, em seu primeiro show fora de Brasília e em plena campanha eleitoral naquele ano. Philippe reforçou toda a mensagem explícita da música, o que de sobremaneira desagradou a militância da candidatura do prefeitável Marcelo Freixo, militância que tinha alguns representantes na plateia. Mesmo assim, Philippe deu votos de boa sorte ao amigo Marcelo Yuka, ex-Rappa e atual candidato a vice-prefeito de Freixo.
É muito Marcelo pra um dia só. Marcelo na bateria, Marcelo Yuka sendo citado (e sendo ele vice de outro Marcelo) e eu na platéia curtindo tudo.
A banda anunciou estar feliz em participar de vários projetos. Além do novo CD/DVD, citou a participação na trilha sonora do filme Federal e a participação no documentário Rock Brasília. Também anunciou novos projetos feitos pela banda ou em que a banda é citada: o filme Somos tão jovens (em que a banda é representada por atores) e o futuro disco de inéditas, que a banda ainda não disse se será lançado apenas no iTunes ou se terá também versão em CD.
Destaco aqui que nunca vi um show com tantas dezenas de pessoas subindo ao palco para cumprimentar os músicos e pular lá de cima em cima da plateia, que fez várias rodas de pogo. Muitas dessas pessoas eram mulheres, e algumas beijavam os integrantes. Clemente até brincou, dizendo que antes a banda apanhava da polícia e hoje é beijada pelas mulheres, e que essa é uma das vantagens de ter ficado velho.
Philippe também anunciou que seu filho nasceu há alguns dias. O garoto ganhou de Clemente o codinome "Seabrinha".
Por fim, a banda disse estar muito feliz em encontrar ainda tantos plebeus (a plateia) no Rio de Janeiro. Plateia que, segundo Philippe, prefere o rock'n'roll à "essa MPB chata dessas novas casas noturnas da Lapa" (palavras dele).
A Plebe Rude pode voltar quantas vezes quiser ao Rio de Janeiro, que sempre encontrará uma platéia grande e entusiasmada. A plebe carioca agradece. Como bem disse Philippe, o rock'n'roll vive, no Rio.
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