sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Clube da Esquina vale mais do que o som "sertanejo"


A música de verdade dura por si mesma. Pode ninguém mais falar por ela, mas ela sempre dura, permanece, porque é feita para a eternidade.

Já a música falsa, de qualidade duvidosa, pode permanecer anos sendo exaltada, gerando renda, fama, plateias lotadas e até um lobby de intelectuais defendendo com intransigência até em monografias acadêmicas.

Mas sabe-se muito bem a diferença entre um e outro. A música de verdade tem sua própria força, a música de mentirinha precisa de factoides, de fama, de propaganda, de documentários tendenciosos, porque precisa que outros falem dela, porque ela nada diz por si próprio.

Vamos comparar o Clube da Esquina e seu parasita mais direto, o "sertanejo", pelo menos aquela geração "sofisticada" dos anos 80 e 90, que "vampirizou" algumas canções e tenta imitar a postura poética, ecológica e humanista que o movimento mineiro traduziu espontaneamente.

O Clube da Esquina já valia pelo seu principal integrante, Milton Nascimento, carioca de nascimento, mineiro por criação. Seu primeiro LP, que originalmente levava o nome do cantor mas ganhou a alcunha de Travessia, já causava um forte impacto pela sua força melódica. Milton Nascimento era apadrinhado por Agostinho dos Santos, que foi um dos maiores cantores do país, mas não precisava disso.

Afinal, Milton mostrava ali sua criatividade poética e melódica, seu canto peculiar e belo, acompanhado de arranjos musicais belos de arrepiar. Seu primeiro LP tornou-se um clássico da MPB, por mostrar, desde o começo, um dos maiores cantores da atualidade, e um dos artistas mais íntegros e criativos. E que, curiosamente, até a Fluminense FM nos seus bons tempos tocava em alta rotação.

Mas por quê? Porque Milton, além de um grande nome da MPB - sim, a rádio de rock niteroiense tocava também MPB de qualidade, sobretudo no programa Espaço Aberto - , era fã de rock, como Beatles, Who, Byrds, até rock progressivo. E foram essas influências, aliadas à Bossa Nova, a Caymmi, ao cancioneiro caipira, que se compôs a mistura que Milton e os outros "sócios" do Clube começaram a fazer, seja em Belo Horizonte, seja em Piratininga, Niterói, onde o grupo chegou a passar uns dias.

E os outros artistas também demonstraram serem de primeira: Beto Guedes, Lô Borges, Flávio Venturini (solo ou com o 14-Bis), Toninho Horta, entre outros. Todos eles promovendo uma música melodiosa e poética, que pode não ser uma música necessariamente "litorânea" como a Bossa Nova, mas se compara a ela pela musicalidade forte e bela.

Agora compara com o "sertanejo", em que mesmo ídolos tidos como "sofisticados" - um exemplo: Chitãozinho& Xororó - , possuem um talento medíocre, disfarçado por covers de MPB que nem por isso elevam a qualidade desses "artistas", mas, pelo contrário, depreciam o repertório alheio gravado em versões medíocres e pedantes.

Não bastasse esse detalhe, os ídolos "sertanejos" levam mais de 20 anos de carreira para tentar gravar algum disco "sofisticado". E mesmo assim isso é mais fruto do esforço de outros arranjadores, outros produtores, outros instrumentistas, que apenas "acobertam" a mediocridade dos cantores e duplas, que continuam desafinados, cafonas e artisticamente até menos inspirados.

Por isso, para aqueles que se apegam aos ídolos "sertanejos" porque as rádios impuseram, a Rede Globo mandou, a Folha de São Paulo redescobriu, a revista Caras recomenda, a Contigo aconselha e a Record assina embaixo, é bom um conselho.

Deixe de ser marionete da mídia e jogue todos os discos "sertanejos" nos sebos, sem dó nem piedade. Substitua todos eles pelos discos dos já citados cantores e grupos do Clube da Esquina. A princípio, pode parecer difícil, mas depois se acostuma com o melhor, esquecendo-se do pior.

Muita gente precisa reeducar seus ouvidos e respeitar melhor seus corações com música de qualidade que eleva o espírito e que permanecerá anos e mais anos exibindo beleza e sinceridade.


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