No dia 30 de janeiro de 2011, foi publicado no blog
Pro-Realengo, um projeto de uma urbanista, ex-moradora do bairro, de nome
Fernanda Mihessen. Ela apresentou neste blog um
projeto diretor para a região da Praça do Canhão e arredores. O projeto em si é bom, porém ele tem um terrível inconveniente: propõe a contrução de condomínios em área densamente povoada e com forte circulação de veiculos na maior parte do dia.
Os locais onde ela quer implantar condomínios são o Campo de Marte e o terreno onde era a Escola de Equitação do Exército. No local aonde ficam estes terrenos, é aonde tem mais circulação de veiculos, a ponto de ocorrer engarrafamentos críticos nas horas de rush, sobretudo no horario da noite em função dos alunos da Faculdade São José.
Muita gente elogiou o projeto dela, até o autor do blog também elogiou, porém outras pessoas, assim como eu, condenaram o projeto. E condenaram por dois motivos, primeiro foi o motivo citado no começo do texto em relação ao trânsito, e segundo, porquê as alternativas de lazer, educação e empregos propostas por ela foram pouco contempladas no seu projeto. Um outro fator condenado pelos leitores, e que não foi citado por ela no projeto, é o impacto ambiental do mesmo, no que se refere a rede de esgoto, pois segundo uma leitora, o esgoto do bairro é lançado
in-natura nos rios da região, e um empreendimento como condomínio, shopping, e universidade traria um forte impacto em termos de volume de esgoto lançado nos rios da região.
Outra questão a ser considerada também é com relação ao terreno da antiga Fábrica de Cartuchos do Exército, em frente a Praça do Canhão. Ela propôs construção de um parque e um centro comercial naquele terreno onde ela afirma que este se encontra abandonado. Só que todo o terreno da antiga fábrica, incluindo os imóveis, estão sendo reabilitados e recuperados pelo Colégio Pedro II. Quem passa de carro tanto pela Avenida Santa Cruz como pela Avenida Bernado de Vasconcelos sabe disso.
O que Realengo precisa hoje é de quatro coisas: saúde, educação, emprego e lazer. Saúde, pois quem mora em sub-bairros como Barata, Jardim Novo e Mallet precisa ir ao Sase, a UPA ao lado da estação de trem, PAM de Sulacap ou ao PAM de Padre Miguel e ambos não estão dando mais conta. Educação, pois não temos em Realengo uma universidade publica (embora esteja sendo contruido um centro universitário técnológico em outro terreno da antiga Fábrica de Cartuchos) que atenda de fato os moradores e nem escolas técnicas. A própria autora do projeto teve que estudar na Universidade Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica, já que no bairro não há universidade publica com o curso do qual se formara. Eu, Leonardo Ivo, autor deste blog, sinto na pele isso, pois estudo em Campo Grande e tenho de pegar duas conduções para chegar lá.
A outra prioridade é o emprego, pois a maioria esmagadora dos moradores de Realengo trabalham fora do bairro, em geral, em locais bem longe de suas residências como Centro, Zona Sul, Campo Grande, Jacarepaguá e Barra da Tijuca, sendo o mais próximo, Bangu. Este fator faz com que muito morador do bairro não consiga emprego ou leve mais de duas horas para chegar em casa e descansar com a família. Em todos os lugares do mundo, está havendo uma desconcetração das atividades comerciais e empregatícias nas regiões centrais das cidades, onde estas estão indo para as periferias dos bairros, já que ao se fazer isso, o morador destes locais ficaria próximo do seu local de trabalho, não precisando pegar qualquer tipo de condução ou mesmo usar seu carro, diminuindo os custos com transportes. Em épocas de preservação do meio âmbiente e de erradicação dos congestionamentos, isso tinha que ser pensado. Isso evita também o nascimento e a expansão de favelas.
Outra questão a ser levantada é com relação ao lazer. Realengo não possui cinemas e teatros ha mais de vinte anos. O último cinema do bairro foi o Cine Theatro Realengo, que nos seus últimos anos de vida, vivia exibindo filmes pornôs e ainda foi atingido por uma infestação de abelhas onde um homem morreu. Depois disso, virou igreja caça-níquel. Hoje, as únicas opções lazer são a Lona Cultural Gilberto Gil, o Centro Cultural Jorge Ben Jor e a casa de shows Mega Show. Não temos mais teatros, bibliotéca só temos a que fica ao lado do Colégio Pedro II, e que não abre sempre é a única do bairro. Isso apenas na parte principal do bairro, em sub-bairros como Barata, Jardim Novo, arredores da Rua do Governo e da Estrada da Água Branca não há nenhuma opção de lazer para os moradores destes locais onde estes tem que ir para outros bairros para poderem ter lazer. Esta situação se encaixa perfeitamente na mesma questão do emprego, pois este também está concentrado nos bairros mais ricos e centrais como a Zona Sul, Barra e Jacarepaguá ( que eu prefiro chamar de Zona Leste por serem regiões que nada tem a ver com a Zona Oeste de fato), enquanto que na Zona Oeste as opções são muito escassas.
Enquanto a Zona Sul quer se livrar de mega shows, na Zona Oeste carece dos mesmos e a Praça do Canhão tem vocação para isso, como já foi comprovado nas poucas vezes em que foi realizado shows naquele local. Estes shows atendem perfeitamente aquele local, pois seus principais frequentadores, são moradores de bairros como Zona Norte, Oeste e Baixada Fluminense, o que não é o caso dos moradores da Zona Sul. Se contruírem condomínios no local ao lado, este espaço se perderá e quem for morar neles não vai querer estes eventos na praça, como tem acontecido na Zona Sul, onde as associações de moradores travam verdadeiras batalhas com a prefeitura e as empresas de eventos para tirá-los de lá. Enquanto isso, a Zona Norte carece e disputa estes eventos e a Zona Oeste fica passiva obsevando tudo. Esta é outra questão não abordada e ignorada no projeto.
A autora do projeto respondeu as minhas críticas, dizendo que os condomínios serviriam para organizar e ocupar constantemente os terrenos, favorecendo a vinda de escolas, postos de saúde e creches na região, e que impacto causado por eles no trânsito seria absorvido por ruas periféricas. Será que ela se esquece que estas ruas são pequenas demais para absorver o trânsito futuro, que Realengo já é um bairro densamente povoado e que carece destes equipamentos independente da existência destes condomínios? E no que se refere a shoppings, cinemas, universidades e centros culturais não fazem uma ocupação constante e mais eficiênte destes terrenos? O mais interessante nisso tudo foi que a resposta dada por ela foi de forma muito mecânica e burocrática parecendo acessoria de imprensa. Este projeto na prática agrada principalmente as construtoras e ao mercado imobiliário, que além de serem os maiores interessados no mesmo, são os que mais destróem e causam transtornos as cidades e ao meio âmbiente, pois os mesmos não se preocupam com os compradores de seus empreedimento, e sim com o lucro obtido com a venda de um imóvel numa área supostamente boa. Vale lembrar, que este projeto se fosse aplicado inviabilizaria
a construção do segundo viaduto sobre a linha férrea que tanto Realengo carece, e que finalmente a prefeitura pretende colocar em prática. E muita gente não está percebendo isso.
Antes de congratular qualquer projeto, este tem que ser extremamente debatido por quem vai ser atingido por ele juntamente com os governos e a iniciativa privada, pois ao se fazer isso, evita-se problemas e arrependimentos futuros, quando nestas situações já seria tarde demais, e pouco ou nada poderia ser feito para reverter o processo. Um projeto só pode ser posto em prática ou mesmo concebido, se todas as partes envolvidas forem ouvidas e se estas opinarem sobre ele, dando sugestões e mostrando suas necessidades para que o mesmo os contemple. Após isso, o projeto pode ser apresentado e posto em prática, já que neste caso, todos foram ouvidos e opinaram sobre ele, diminuindo as chances de arrependimento e de se voltarem contra o mesmo no futuro. Pensem nisso!