Vi hoje no blog mineiro Ponto de Ônibus uma matéria escrita pelo jornalista busólogo da CBN Adamo Basani sobre a Cermava. Confesso que fiquei muito feliz, pois a mesma fez parte da vida da minha família, sobretudo da vida da minha mãe e de seus tios. Minha mãe passava todos os dias ao lado desta encarroçadora que ficava na Rua João Pinheiro no bairro da Piedade aqui no Rio de Janeiro e via os ônibus serem montados e encarroçados na rua, pois o espaço físico da fábrica era muito pequeno. Tios dela trabalharam nesta encarroçadora como operários.
Um outro fato curioso é que esta encarroçadora ja teve uma filial em Realengo na Rua Jaime de Carvalho. Nesta unidade eram fabricados os bancos dos ônibus. Tal fato é comentados por moradores antigos desta rua, porém não confirmado oficialmente. Esta encarrodora funcionou no bairro da Piedade até inicio da década de 70 quando foi comprada pela Metrôpolitana, também extinta. Antes disso ela ja estava capemga, pois sofrera um incendio pouco tempo antes que a prejudicou. Após ser imcorporada pela Metropolitana, o imóvel da fábrica ficou abandonado por quase 30 anos. Agora, desde 2008, no seu lugar foi construido um condominio pondo fim ao pouco que restava desta heróica e histórica encarroçadora.
No âmbito familiar duas coisas da nossa história que tinham endereço na mesma rua da Cermava lamentávelmente acabaram: a Igreja Congregacional da Piedade e a própria Cermava, sendo que a que mais doeu, uma vez que além de ter sido centenária foi a igreja, pois nela meus avós, meus tios, meus pais se casaram e consagraram todos nos, filhos e netos. Quando vi que esta igreja que frequentava quando criança na década de 80 com minha mãe, meus saudosos avô e o meu pai tinha acabado, confesso que fique arrazado por dentro, pois toda uma história de familia foi por espaço. Hoje esta igreja é uma outra igreja evangélica que nada tem a ver com a igreja que fez parte da história da minha família. Na verdade, a única coisa que sobrou de tudo isso foi o clube River e só! Mais isso é uma outra história.
Quanto ao jornalista Adamo Basani, ele assim como o Milton Jung são busólogos e aparentemente parecem ser contra a padronização das pinturas dos ônibus que existe na cidade onde moram. Adamo Basani escreveu um texto num site de busologia paulista mostrando os estragos e transtornos promovidos no final da década de 70 pelo falecido dono do Itau quando este foi prefeito de São Paulo quando este começou a implantar parcialmente a padronização das pinturas naquela cidade. Leia este brilhante texto deste também brilhante jornalista sobre esta heróica encarroçadora. E só e feliz ano novo!
Cermava: a cara do Rio, a cara do Brasil, a cara do Mundo
Reúna portugueses e brasileiros no Rio de Janeiro. Depois chame os italianos. Qual o resultado? Uma bacalhoada com macarronada ao som de muito samba? Pode até ser. Mas no nosso caso da história dos transportes o resultado foi a Companhia Autocarrocerias Cermava, empresa fundada no Rio de Janeiro, e sem dúvida, com grande importância na história da indústria nacional, a partir dos anos de 1940.
O encontro de tantas nacionalidades na mesma empresa é revelado pelos relatos do Diário Oficial da União de 18 de dezembro de 1948.
De acordo com a publicação oficial, eram sócios diretores nesta época Antônio Eiza Cerqueira (brasileiro), Manuel Conceição (português), Álvaro Martins Fonseca (brasileiro), Mário Humberto Esteves (português), Álvaro Batista Esteves (brasileiro), Deusdedit Moura Ribeiro (brasileiro), Orlando Martins Fonseca (brasileiro), Vinícius Martins Fonseca (brasileiro) e João Saraiva Ramos (português).
A empresa começou tímida, fabricando poucos ônibus por mês. Mas os produtos já nos anos de 1940 eram de qualidade e tinham um design diferente e inovador para época.
Enquanto os veículos de transporte coletivos eram com “cara de caminhão”, as jardineiras e os ônibus na configuração de carroceria envolvente, com frente reta abrangendo o motor no salão de passageiros, tinham linhas muito arredondadas, a Cermava já se propunha a harmonizar desenhos retos e mais arredondados, dando uma estética de equilíbrio.
A bacalhoada e o samba já estavam juntos. Mas quando chega a macarronada?
No final dos anos de 1940 também.
De acordo com o historiador Waldemar Correa Stiel, auto do livro “A História do Ônibus”, quando a Caio, fundada por José Massa, avô do corredor de Fórmula 1, Felipe Massa, adquiriu um terreno para a nova sede da empresa em São Paulo, na Rua Guaiaúna, na Penha, aproveitou o sucesso da encarroçadora e quis ampliar seus negócios para o Rio de Janeiro, e comprou a Cermava.
Era o indício de que a família italiana Massa tinha o objetivo de expandir seus negócios para todo o País com a Caio. E foi o que aconteceu.
A marca da Cermava continuava, mas com outros diretores. Para se ter uma idéia, no Diário Oficial da União de 15 de fevereiro de 1956 eram sócios da Cermava: Octacílio Piedade Gonçalves, que auxiliou na fundação da Caio em 19 de dezembro de 1945, José Massa, fundador da empresa, José Roberto Ferreira Braga, Miguel Lagodano, Luis Massa e Ruggero Cardarelli, que também estava na formação da Caio.
A Cermava presenciou e auxiliou as etapas de crescimento da população e das necessidades por ônibus de maior capacidade em linhas cuja demanda era demais para os pequenos ônibus feitos pela indústria nacional.
Assim, uma das soluções temporárias para este crescimento foi chamado “Papa-Filas”. Tratava-se de uma enorme carroceria para passageiros, na verdade uma “carreta para gente” que era tracionada por um cabalo de caminhão. A capacidade de transporte era bastante grande, correspondia a quase três ônibus comuns. Grandes também eram o desconforto e as dificuldades de manobras pelo tamanho do veículo. O “Papa Filas” da Cermava, considerado primeiro veículo deste tipo do Rio de Janeiro, começou a circular pelas ruas da cidade em 1957.
Em 02 de junho de 1959, quando foi criada a Fabus, entidade que representa as encarroçadoras, a Cermava era uma das associadas, tendo como repesentante, Luis Massa.
Muitos ônibus da Caio, a mesma proprietária, utilizavam linhas semelhantes aos produtos da Cermava.
O modelo urbano da Cermava, para muitos, lembra o Jaraguá da Caio.
Em 8 de junho de 1970 foi realizadaa última atividade comercial desta empresa que marcou história.
Adamo Bazani"
Fonte: http://blogpontodeonibus.wordpress.com/2010/12/30/cermava-a-cara-do-rio-a-cara-do-brasil-a-cara-do-mundo/