Helio Fernandes
Fiz questão de colocar no título meu entusiasmo pela população LIBERTADA, e pela POLÍCIA (toda ela, seja de onde for ou vier) LIBERTADORA. Pois vou fazer muitas restrições, OBRIGATÓRIAS, e não quero deixar a impressão de que pretendo desmerecer a ação dessas polícias, que tiveram todo o apoio da coletividade dos morros “dominados” pelos traficantes.
Não era apenas o apoio simbólico, mas esses moradores sentiam a aproximação de viverem uma nova vida sem horror, sem intimidação, sem estarem vigiados e controlados dia e noite por esse bandidagem cruel e selvagem. Os moradores se arriscavam de tal maneira, que apenas no sábado, pelo “Disque-Denúncia”, deram 634 informações APROVEITADAS pela polícia. Foras as que não obtiveram confirmação.
Minha primeira restrição: a repetida afirmação feita preventivamente no sábado e apressadamente no domingo: “No fim da tarde, início da noite (ontem, domingo), estará tudo terminado”. Isso é exagero de expectativa, ou melhor, desinformação numa operação baseada toda em informação.
Ontem até podia estar se travando confronto militar importante, mas não final. Os bandidos só poderão ser considerados derrotados, exterminados, fora de circulação, com muitas, várias, diversas medidas fora desse anunciado “confronto militar”.
E isso não se faz num dia, numa semana, num mês, nem quero dilatar ou exagerar nesses prazos. São tantas as medidas indispensáveis no campo puramente administrativo (civil e militar), que sem o menor constrangimento, podemos apurar e estabelecer aqui, o que já foi feito em muitos países.
(México, principalmente, Colômbia, Itália, notadamente em Nápoles, e fundamentalmente nos EUA, com os quais temos enormes semelhanças. E cujos exemplos devemos seguir imediata e exemplarmente).
Antes de mais nada, a recuperação do policial, o homem e sua família. O homem-soldado recebe (fico envergonhado de dizer GANHA) 984 reais, não chega nem aos mil reais, tão badalados nos últimos dias. Também não têm comomanter as famílias, geralmente trabalham num esquema de 24 por 48.
O que significa isso? Que trabalham 24 horas e “descansam” 48. O que podem fazer no intervalo dessa vida que pode terminar de uma hora para a outra? Quando beijam mulher e filhos para irem ao trabalho, pode ser a última despedida, quantas vezes tem sido?
EM NY, POLICIAL GANHA 9 MIL DÓLARES
Comparação obrigatória mas que deveria ser levar à modificação da legislação, para que esses heróis diários, pelo menos pudessem se transportar, pagar aluguel, comer. E o colégio dos filhos, roupas, tudo isso com 984 reais? Vejamos nos EUA.
Em Nova Iorque (Manhattan), um policial fardado, ganha 107 mil dólares por ano. (Lá tudo é calculado e contabilizado por ano). Dá mais ou menos 9 mil dólares mensais, ou seja, 16 mil reais mensais. Não dá nem para escrever, a não ser com vergonha. E outras cidades pagam ainda melhor.
Se aposentam aos 20 ou 25 anos de serviço, de acordo com a ficha, sem qualquer punição. É um incentivo à dignidade, embora uma pequena minoria seja enquadrada no que chama de “policiais sujos”.
Mais ou menos há 100 anos, Nova Iorque era inteiramente dominada por gangues, que dividiam a cidade entre elas. (Existe até um belo filme dirigido por Martin Scorcese, “As Gangues de Nova Iorque”, quase ganhou o Oscar).
Parecia que isso jamais iria terminar, as gangues foram dizimadas. Até que tudo foi eliminado com a campanha vitoriosa do prefeito Rudolph Giuliani, (que pretendia ser presidente), mundialmente conhecida como “TOLERÂNCIA ZERO”. A IMPUNIDADE terminou aí, os corruptos foram presos, julgados, condenados e encarcerados, até muitos figurões,
Quando faremos isso aqui, se a acusação de corruptos e a conseqüente impunidade, estão no centro dessa mesma operação militar inédita? Por que só agora começaram a BLOQUEAR as CONTAS e os BENS dos traficantes e seus familiares? Como os números da mobilização do tráfico chegam a BILHÕES e BILHÕES, por que demoraram a atingir os traficantes no ponto mais importante. Que é o dinheiro para viverem e poderem comprar armas e drogas, nada disso existe no morro.
Uma ligação que deveria ser revelada e desvelada agora. Esses traficantes que sequestraram e aprisionaram milhões de pessoas, fisicamente não têm a menor categoria, são bandidos mesmo. Andam de sandálias e calças sujas ou bermudas, não têm a menor representatividade.
Quem negocia para eles a compra de fuzis (mais de três mil, confirmados) e as drogas que revendem a preços mirabolantes? Devem ter FIGURÕES da Zona Sul ou da Barra para representá-los.
Esses três advogados” presos, cúmplices e também “pés de chinelos”, sem a menor representatividade. Segundo a própria OAB reconhece, não são verdadeiramente advogados. Por que não afastá-los imediatamente da profissão, como faz o OAB dos EUA, lá conhecida como BAR OFFICE? Que age de forma fulminante .
A QUEM PERTENCE A MANSÃO DO TRÁFICO?
Às 14 e 20 minutos, a TV Globo, (com autorização, nada contra) mostrava seguidamente uma bela casa de três andares, luxuosa (luxo mesmo, com mármore, piscina, equipamento diversificado de eletrônica e computador, banheiro suntuoso), casa atribuída “a um alto chefe do tráfico”. Por que não divulgaram o nome desse “chefão”? E por que ele não estava presente? A “inteligência” tem a relação total e nominal dos “chefões” do tráfico.
E na verdade dessa hora em diante, foram “faladas mas não mostradas”, quantidades de drogas e de armamento. Os repórteres pareciam assombrados, perplexos, extasiados. Mas na verdade nada disso é impressionante diante do tempo e da movimentação ILEGAL que esses traficantes comandavam.
ONDE ESTÃO OS TRÊS MIL FUZIS?
(Dois especialistas, os coronéis José Vicente da Silva, da PM de São Paulo, e Paulo César Amêndola, da PM do Rio e fundador do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), falaram que existiriam cerca de três mil fuzis no Complexo do Alemão. Quantos foram apreendidos?)
Um momento emocionante (apesar de puramente simbólico) foi o hasteamento das bandeiras. Lembrava muito, proporcionalmente, o que acontece na Ilha de Wake, na Segunda Guerra Mundial. E que valeu dois belos filmes dirigidos por Clint Westwood).
A Globo, que fazia boa cobertura fotográfica, cinematográfica, tecnológica, quando entrou no terreno do comentário, comprometeu tudo. Faltou direção, deviam ter limitado atribuições. A análise em profundidade foi feita por quem não estava preparado, disseram textualmente: “É um momento de recuperação da polícia, que havia se desgastado completamente perante a população”.
Deviam fixar os terrenos dos repórteres e dos comentaristas. Em Langley e em Quântico, na Virginia, sedes da CIA e do FBI, há um painel na entrada, esclarecendo: “OPERADOR de campo, é uma coisa, OPERADOR de burocracia, outra muito diferente”. É exatamente o que houve ontem na cobertura da Globo, além do exagero sobre O FIM DO TRÁFICO.
A FARSA E MISTIFICAÇÃO DE CABRALZINHO
Faltando cultura, bom senso e conhecimento, nova desequilibrada da TV Globo, elogiando SUNTUOSA, DEGRADANTE e de forma ENTUSIAMADA, a farsa e a mistificação do governador cabralzinho. Sintetizemos o que ele disse:
1 – “Agradeço, emocionado, o APOIO QUE A POPULAÇÃO NOS DEU”.
2 – “SEM ESSE APOIO AO NOSSO TRABALHO, NADA SERIA FEITO”.
3 – “RECUPERAMOS UM TERRITÓRIO LINDÍSSIMOQUE VINHA SENDO PERDIDO HÁ 30 ANOS”. (Alguns desses governantes tiveram a colaboração-cumplicidade do próprio cabralzinho).
4 – “Temos que agradecer ao presidente Lula e ao secretário Beltrame, QUE COMANDOU TUDO”. Ha!Ha!Ha!
5 – E não podia terminar tanta farsa e mistificação, se não se enrolasse na “bandeira da moralidade” e se não dissesse: “Só um governo como o nosso, poderia concluir ESSA RECUPERAÇÃO, QUE É PARA SEMPRE”.
O delegado que comandou uma parte da operação, fez duas afirmações estranhas e que devem ser traduzidas. “A ocupação do Alemão foi PREOCUPADAMENTE TRANQUILA”. E depois: “Antes de fugirem, os chefões DESTRUIRAM a casa de luxo (era só uma?) e tudo o que podiam. As duas declarações se completando ou se contradizendo? “TRANQUILA DEMAIS”, e os CHEFÕES FUGINDO? Difícil entender ou compreender.
Estranhamente, poucos fatos. Mas muita coisa incompreensível, acontecendo quando não devia ou podia acontecer. Por que cabralzinho afirmou, “há mais de 30 anos isso existe”? Atingiu uma fase longa da ditadura de 1964/85. Cabralzinho sabe pouca coisa, mas contar até 30 ele sabe.
Quis então atingir os militares da ditadura? Mas o seu “envaidecimento”, sua “arrogância”, seu “idolatrismo” da afirmação “o povo está conosco”, não teria acontecido se a Marinha, o Exército e a Aeronáutica não tivessem desembarcado no Rio.
OS BANDIDOS FUGIRAM. HOUVE ACORDO?
Mas a surpresa, a estranheza e a perplexidade, deixam margem para especulações. No sábado, às 8 horas da noite, um dos coronéis que “chefiava” a operação, dizia: “Demos prazo aos bandidos para se entregarem até meia-noite. Se não se entregarem, começaremos a invasão”.
Um repórter não comprometido (existem, desde que fiquem longe dos “proprietários”) perguntou, “e se eles fugirem?” Resposta: “Não podem fugir, o Complexo do Alemão está todo cercado”. No dia seguinte, (ontem) ninguém foi preso, todos fugiram. Mas como e por onde?
Começou então a circular: foi feito acordo, os grandes traficantes “desapareceriam”, não seriam presos, mas deixariam de atuar. (Antonio Santos Aquino, sempre bem informado, deu até os nomes de quem poderia ter participado das conversas e negociações). A verdade é que ninguém dos que movimentam BILHÕES foi preso.
Recapitulando; por volta das 4 da tarde de sábado, uma “oferenda” surpreendente e rigorosamente inexplicável. O traficante Zen, do primeiro time, foi preso e apresentado triunfalmente, era o único.
Tentativa de explicação: esse bandido, cruel e sanguinário, covarde implacável, é um dos assassinos do jornalista Tim Lopes, barbaramente torturado. Mas esse Zen, que estava FORAGIDO há anos, sem que ninguém o encontrasse, o que foi fazer no Complexo do Alemão, na véspera e no dia da invasão?
O que diziam e com insistência: a “inteligência” das policiais sabia há muito onde estava esse Zen. Não quiseram prendê-lo a não ser numa emergência, que chegou ontem. Segundo informes, ele não estava no Alemão, foram buscá-lo e entregaram por caminhos diversos, para dar impressão de que estava no Alemão. E a “cobertura” da Globo, “terminava” gloriosamente.
E NINGUEM FALAVA NAS MILÍCIAS
Mas nada terminava aí, exatamente como a chamada invasão. Ninguém dava uma linha sobre as milícias, como se elas não existissem. Mas fontes me confidenciavam; “Helio, você não pode jogar fora uma existência de apaixonado pela informação, acreditando no que sugerem ou espalham como INVASÃO VITORIOSA”.
Acrescentou: “Tome nota, Helio, As milícias, ligadíssimas a Sergio Cabral, desde os tempos do Panamericano, receberiam aquele território enorme do Alemão e se implantariam ali. Os moradores, sempre enganados, mudariam de donos”.
E terminava: “Os milicianos não permitiriam DROGA, e como são menos cruéis, exaltam mais a alma de negociante e são ótimos em divisão, seriam os grandes vitoriosos”. (Pode não acontecer, mas não é hipótese surrealista).
Havia um clima de velório, abatimento, não prenderam ninguém importante? Então, depois da “falcatrua” prisional praticada contra um dos assassinos de Tim Lopes, desenterraram um episódio menor da véspera. E a TV concordou em retumbar, já havia sido recompensada. Um garoto assustado, simples “olheiro”, foi levado pela mãe (a TV Globo disse que foi o pai) à delegacia, explicaram: “Isso é prova de que TODOS CONFIAM na polícia”. Ha!Ha!Ha!
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PS – A trombeteada invasão do Alemão, não foi invasão espetacular ou sensacional. Dava a impressão de “Tropa de Elite 3”, com roteiro e direção modificada. Por isso, ao contrário do filme de José Padilha, fracasso de público.
PS2 – Quanto ao sucesso de bilheteria, não se contabilizado, porque igual ao “mensalão”, não havia pagamento à vista. Mas muita gente enriquece “há 30 anos”. (Royalties para cabralzinho).
PS3 – Outros sinais de acordo. Pelo menos, na aparência. As polícias, todas, estão concentradas na descida e subida do Alemão, para fingir de “guerra” mesmo. Mas as ruas do Centro, Zona Sul e Barra, estão silenciosas, tranqüilas, bares movimentados."